Camila Wanderley

Eu me apaixonei pelos coquetéis sour no Peru, durante uma viagem em família. Chegando ao hotel, deixei as malas no quarto e fui diretamente para o bar, local onde membros equilibrados de famílias largas se encontram refugiados, bebericando drinks que nos ajudam a lidar com tias que indagam “onde estão os namorados”, pais com piadas decadentes, e mães que nos perguntam se “realmente vamos repetir a sobremesa”.

Os tempos estão mudando e a cada dia es- ses estereótipos são mais e mais desafiados pela sociedade. Porém, mesmo ao quebrar as janelas que dividem os sexos, ainda cortamos os pés ao pisar nos cacos de vidro que ficam espalhados no chão. Aqui, decidi introduzir algumas dessas pontas afiadas que ainda nos espetam através de uma cultura que anda lado a lado com nos- sa espécie: a da bebida. Pois, afinal, se antes os homens eram de Marte e as mulheres, de Vênus, hoje eles bebem whisky e elas, gin e tônica.

Foi em uma conferência gastronômica em Belo Horizonte que me deparei com meu primeiro vinho mineiro. Ali, enquanto explorava as ofertas de queijos, geleias, doces e goiabadas (que, afinal, é o que se espera encontrar em uma feira de produtores locais mineiros), vi, de relance, uma escura garrafa estilo Borgonha.

Todos que conhecem Minas Gerais, conhecem a mesa de café da manhã cheia, na casa da avó, com o bolo de fubá, o pão de queijo, a família reunida, e um cafezinho recém-passado. A história da cultura gastronômica mineira acontece ali, na mesa da cozinha, dentro de casa, e assim se expressa nossa paixão pelo café.

Para mim, o café e os coquetéis são enormes infuências para um revolucionário movimento filosófico — quem vai me dizer que existe algo melhor que sentir aquele cheiro torrado de cafeína pela manhã, com a xícara esquentando seus dedos que ainda não acordaram por completo?

Se você for até as profundezas da Itália, encontrará em alguma esquina a “Santíssima Trinidade”, que já se espalhou por todo o globo: gin, Vermouth e Campari. Ao se juntarem, esses três ingredientes simples criam uma das mais emblemáticas bebidas do mundo da coquetelaria, uma mescla simples, mas que ao mesmo tempo nos aporta uma rica história e sabores que harmonizam entre si: com vocês, o Negroni!